Coletes Amarelos: outra forma de conceber a luta (entrevista – português e francês)

 

Por alguns Coletes Amarelos 
(dentre outras coisas)

 

1. Como surgiu o movimento Gillet jaunes?

O movimento dos Coletes Amarelos (gilets jaunes) começou na França em novembro, logo após o governo anunciar o aumento no preço dos combustíveis. Ele se espalhou muito rapidamente graças às redes sociais, onde muitos chamados para se manifestar, no dia 17 de novembro, apareceram por todo o país.

A primeira novidade do movimento é que ele não convocou as pessoas para se manifestarem nos centros das cidades, mas sim nas rotatórias próximas das cidades, com o objetivo de bloquear os pontos estratégicos da economia: depósitos de combustíveis, centros comerciais, grandes empresas, a maior parte situadas nas cidades médias situadas nos arredores das grandes cidades. É interessante notar a presença, desde o início, de uma verdadeira inteligência estratégica coletiva. E isso levando em consideração o fato do movimento não estar estruturado, ser completamente espontâneo e ter, em seu seio, muitas pessoas que vivem as primeiras manifestações de suas vidas.

As reivindicações se alargaram rapidamente em direção à reivindicações mais sociais: mais justiça social, reestabelecimento do imposto sobre as grandes fortunas (cortado por Macron), aumento do poder de compra e também mais democracia e representatividade da população. O aumento do preço dos combustíveis foi, no fim das contas, uma desculpa para contestar a política global do governo. Essa taxa do aumento do combustível vai ser rapidamente retirada pelo governo para tentar acalmar o movimento, no entanto, as manifestações não pararam. Elas tomaram outras formas, foram mais para os centros das cidades. Houveram chamados nacionais para ir à Paris onde manifestações enormes ocorreram no início de dezembro, afetando bairros que normalmente não são afetados, como Champs-Elysées e os bairros burgueses em volta. As lojas e os restaurantes de luxo foram o alvo das manifestações dos Coletes Amarelos.

O movimento possui também outra particularidade: o fato das manifestações aconteceram no sábado. Historicamente, na França, isso jamais ocorreu. Isso permitiu mobilizar mais pessoas e, ao mesmo tempo, ter um impacto importante na economia dos centros das cidades, onde as manifestações se desdobraram. Por exemplo, todos os sábados de dezembro, período de grandes vendas por conta do Natal, as lojas do centro da cidade e, às vezes, os centros comerciais de outras localidades, foram bloqueados.

2. O que há de novo neste movimento em relação às últimas grandes movimentações de resistência
 (ex.: o primeiro de maio de 2018, contra as reformas trabalhistas)?

A primeira particularidade do movimento é, como já dissemos, organizar-se fora de todo quadro institucional. Os primeiros chamados nasceram e foram amplamente difundidos nas redes sociais prescindindo completamente dos sindicatos e dos partidos políticos. O desafio face às organizações políticas tradicionais é um dos elementos essenciais da mobilização dos Coletes Amarelos. Os sindicatos, hoje, bem que tentam se inserir no movimento, mas sua capacidade de mobilização mantem-se marginal em relação às novas figuras públicas do movimento que apareceram no facebook ou nas rotatórias. Um outro elemento que ilustra o desafio colocado pelos Coletes Amarelos aos partidos políticos é o fracasso das tentativas para que se criem listas eleitoras «Coletes Amarelos» para as eleições europeias que acontecerão no mês de maio. A cada vez, os líderes presentes nessas listas renunciaram frente à pressão das ruas e rotatórias que recusam-se categoricamente a entrar no jogo eleitoral e rejeitam as instituições governamentais, sejam elas europeias ou nacionais.

Isso permite introduzir uma faceta nova e particular dos Coletes Amarelos. Como se disse, a primeira faísca que despertou o movimento foi a taxa sobre o combustível e outras reivindicações que foram incluídas posteriormente. Mas fica nítido que essa mobilização não se dá contra uma medida particular, mas que ela cristaliza-se contra uma política governamental e contra um homem, Emmanuel Macron, que, por si só, simboliza toda a injustiça social e o desprezo pelas classes mais modestas. Se a classe «legalista» do movimento tenta, de muitas formas, posicionar suas reivindicações no centro do movimento, tem-se a impressão que ela vai muito mal nessa tentativa de prevalecer e que a vontade geral é atingir a economia e as representações do poder, em todos os lugares que for possível, enquanto o governo ainda estiver de pé.

Um último ponto a ser destacado é acerca da composição mesma do movimento. Muitos dos Coletes Amarelos vêm de áreas rurais ou das cidades médias1, locais que não são as zonas de contestação tradicionais. E como o movimento não é centrado em uma reivindicação particular, mas em uma política global, ele atravessa as clivagens sociais e profissionais usuais e, assim, reagrupa as pessoas de culturas políticas e de práticas diferentes, muitas pessoas vivendo sua primeira mobilização. Nesse sentido, é interessante olhar para a evolução dos discursos dos Coletes Amarelos. Durante suas primeiras horas, o movimento quis exibir de modo explícito seu apolitismo. Aos poucos, os discursos evoluíram e o movimento deixou de se dizer apolítico, afirmando-se, voluntariamente, apartidário. Através dessa transformação semântica, pode-se ver uma maneira pela qual se assume que as ações de bloqueio, as construções de acampamentos nas rotatórias são modos de fazer política. Modos novos, centrados nos encontros entre as pessoas e fora de toda tentativa de estruturação no seio dos partidos políticos.

Nós já respondemos a questão, mas há elementos a serem adicionados e enfatizados. Trata-se de um movimento que nasceu e que perdura sem nenhum recurso sindical ou político. Algo que nunca existiu, até agora, na França. Além disso, as primeiras ações não foram manifestações, mas foram bloqueios massivos e espontâneos das rotatórias e, logo, da economia, bloqueios dos fluxos de circulação. As figuras públicas que emergiram durante o movimento, o fizeram seja no facebook ou diretamente nas rotatórias, nunca nos quadros de negociação com o Estado. Enfim, as reivindicações, desde o início, são muito amplas, mas catalisam nitidamente uma rejeição em relação às instituições e a uma certa injustiça social que se encarna diretamente na figura de Macron.

1Muitas dessas cidades configuram-se como cidades-dormitórios, tendo em vista o grande número de habitantes que trabalham em uma cidade maior, central.

 

 

3. No Brasil, por parte de uma grande parcela da esquerda, 
há uma imagem muito negativa dos Coletes Amarelos
 enquanto um movimento de direita. 
Como a esquerda tradicional vê  os Coletes Amarelos na França? 
Por que esse momento pode ser percebido como de direita, 
no Brasil ou na França?

O movimento dos coletes amarelos foi percebido como um movimento de direita sobretudo nas primeiras semanas, basicamente por causa da natureza de suas reivindicações. Apontando diretamente o aumento das taxas (em primeiro lugar, sobre os combustíveis, mas não unicamente) como responsável pela baixa do poder de compra dos francesas, as reivindicações se aproximam daquelas que são tradicionalmente levantadas pelo patronato, os agricultores e os caminhoneiros, que estão geralmente associados ao eleitorado de direita. Contra sua intenção, o movimento também sofreu por ter sido feita uma associação um pouco rápida entre eles e dois movimentos de contestação reacionários ancorados à direita. O primeiro, o movimento Poujade, de comerciantes e artesãos nos anos 50, era contra o sistema fiscal e os controles que os pequenos comerciantes deveriam sofrer e atuava através ataques violentos contra o governo, com um teor antissemita.

O segundo, mais recente, é o movimento dos gorros vermelhos, que se aproxima dos Coletes Amarelos tanto por sua iconografia (uma peça de roupa colorida), como por suas reivindicações iniciais (retirada de uma taxa «ambiental»), levantadas pelo setor agroindustrial dos agricultores bretões e que resultou numa redução da regulação ambiental sobre o indústria de suínos.

No entanto, com exceção da crítica inicial ao aumento das tarifas, a aproximação entre esses dois movimentos com aquele dos jalecos amarelos não se sustenta. Ali onde o poujadismo e os toucas vermelhas defendem unicamente os interesses econômicos de uma corporação (comercial e agrícola), os jalecos amarelos, lembremos, exprimem a raiva de uma parte da população muito diversificada, de viver a cada dia um pouco mais na precariedade e deslocam as reivindicações sobre um plano político, reivindicando mais espaço no debate político.

Podemos ver nessa tentativa de ataque do movimento uma forma de desprezo de classe assumido por parte da esquerda, que não conseguiu se situar em um movimento social que desafia os quadros de análise clássicos.

É interessante ver que hoje em dia, com a persistência do movimento e a emergência de reivindicações cidadãs (como o referendo popular), essas críticas se calaram amplamente no discurso dos políticos, ainda que uma parte da população, confortada por certos tratamentos midiáticos do movimento, continua a pensar que os jalecos amarelos são racistas, homofóbicos, que não entendem porque se manifestam.

4. Por que vocês e outras forças políticas consideradas
 à esquerda avaliaram necessária a participação, 
o confronto e, até mesmo, 
a confusão com forças de direita? 
O que foi possível aprender com isso?

Se, num primeiro momento, as forças revolucionárias estavam bastante desconfiadas sobre a pertinência desse movimento, nossa curiosidade foi despertada, ao mesmo tempo, pela eficácia da estratégia dos bloqueios e pela participação de uma grande parcela da população. Se nossa hipótese política é a de revelar a guerra civil em curso, isso passa obrigatoriamente por um confronto com um amplo espectro de posições neste contexto insurrecional e, em consequência, também o enfrentamento das posições reacionárias. Se ideias racistas foram expressas de maneira desinibida nos primeiros dias, a afirmação quase unânime dos Coletes Amarelos de que aquilo que nos unia estava em outro lugar rapidamente fez calar ou ir embora aqueles que poderiam sustentar esse tipo de discurso.

Nós nunca nos confundimos com posições inimigas, mas tentamos fazer viver as ideias ou práticas que são as nossas. Assim, por exemplo, pudemos ao mesmo tempo, começar a construção de barracas em algumas rotatórias, democratizar a utilização do Signal para comunicação, levar material adequado para os bloqueios, propor assembleias para nos organizar, documentar o movimento através de artigos e vídeos, levar técnicas de defesa coletiva nas manifestações e frente à justiça. O único critério que torna essas propostas válidas ou não é o bom senso dentro da situação, algo ignorado pela leitura partidária habitual. Cada discussão nesse movimento é um campo de batalhas quanto ao qual nunca se pode predizer o resultado, para o melhor ou para o pior.

5. E as periferias? 
Por muito tempo ouvimos falar da repressão ininterrupta por parte dos governos e dos levantes na periferia. 
Como está a situação desses bairros populares durante o governo Macron? 
Há algum convergência entre suas lutas e os movimentos atuais?

Em relação às periferias, o governo Macron implementou medidas pela educação: um esforço bem recebido pelas educadoras e educadores é a redução do número de estudantes nas classes da escola primária para consolidar a aprendizagem de base (leitura, escrita e cálculo, principalmente). Mas uma medida como essa não se implementa sem seus vasos comunicantes. Os meios alocados para que se pudesse efetivar tal redução foram tomados, notadamente, das áreas rurais, zonas particularmente precarizadas em matéria de educação, algo que explica também o movimento Coletes Amarelos atual. Além disso, essas medidas então muito aquém da necessidade que a situação atual das periferias demanda. De fato, as políticas de acolhimento aos imigrantes são imprecisas – imprecisão voluntária, já que, justamente, não se quer acolhê-los – são nas periferias que são recebidos e acolhidos, pelas associações, pelas instituições etc. que estão à beira de explodir. As problemáticas sociais estão muito mais presentes do que estavam até então. Os bairros da periferia se guetizam.

Acerca das convergências: elas estão longe de acontecerem. No início, o movimento Coletes Amarelos estava longe das preocupações da periferia: a questão das taxas de combustível, os veículos, o racismo ainda forte nesse início, a questão do poder de compra… Tentou-se construir pontes: encontrar as associações, panfletar nos bairros periféricos etc. Mas o militantismo clássico já não funciona, há muito tempo, nas periferias francesas: muito frequentemente levado à frente por brancos, conhecedores das técnicas políticas e longe daquilo que se vive localmente.

No entanto, o apoio ao movimento é generalizado na periferia. Mas trata-se de um apoio à distância, com exceção de algumas associações militantes, notadamente aquelas que lutam contra a violência policial. Por exemplo, o comitê Vérité et Justice pour Adama1 (Verdade e Justiça para Adama) tem feito convocações, desde do último dezembro, para que as pessoas se juntem aos Coletes Amarelos com essas palavras: “O Comitê Adama convoca à manifestação no primeiro de dezembro, sábado, ao lado dos Coletes Amarelos. Os bairros populares são confrontados com as mesmas problemáticas sociais que os territórios rurais ou periurbanos – ditos “periféricos” – afetados pela política ultra liberal de Macron”.

1No dia 19 de julho de 2016, um homem jovem de 24 anos, Adama Traoré, morre em um posto policial de um balieue parisiense. Um comitê é em seguida criado para chegar à verdade sobre sua morte, oficialmente considerada natural.

 

6. Digamos que o movimento Coletes Amarelos, por qualquer motivo, deixe de existir. 
O que ele terá produzido ou mudado na vida de vocês e de outras pessoas que participam? 
Pensamos nos aposentados, por exemplo, que participam ativamente. 
E o que vocês pensam que o movimento terá mudado no ambiente político geral na França?

A primeira coisa é uma forma de conceber a luta: o movimento Coletes Amarelos não parte dos meios políticos/militantes/de esquerda tradicionais, ele não segue suas regras e não está muito preocupado com seus códigos. Trata-se de se confrontar com um mundo que não tem os mesmos referenciais e para quem se organizar politicamente é, então, algo completa e unicamente concreto. É também abandonar a pureza da luta revolucionária. E compor com desacordos bem maiores. Enquanto tínhamos o hábito, localmente, de ser a única força política a romper com as antigas práticas para mudar as coisas nos movimentos sociais, finalmente nós mesmos ficamos impressionados. No que se refere à vida de outras pessoas, é difícil falar por elas: o que é certo é que vimos práticas de solidariedade transformar os hábitos de cada um, vimos linhas de separação política serem ultrapassadas e que, para muitos, o sentimento que derivou daí foi que pudemos retomar a palavra. Por exemplo:

  • Não é mais possível de deixar um Colete Amarelo ser preso numa manifestação;

  • Redes foram criadas para buscar uma solução para os problemas encontrados por uns e outros;

  • Várias “vaquinhas” foram criadas para fazer cartazes, folhetos, mas também para apoiar os Coletes Amarelos que tinham que pagar fiança etc.;

  • Um apoio moral e psicológico, uma atenção a cada um aconteceu naturalmente, as dificuldades de cada situação são levadas em conta.

Os encontros nas rotatórias, nas assembleias, são verdadeiros encontros, com um lado “tribo” que criou novos enfrentamentos, mas, em todos os casos, a sensação é de não mais estar só. O que muda no ambiente político mais amplo é que as instituições políticas foram verdadeiramente desestabilizadas e a fé que lhes é atribuída quase desapareceu. A horizontalidade das tomadas de decisão avançou amplamente.

7. O que vocês pensam sobre as reações governamentais recentes frente do movimento dos Coletes Amarelos, 
como a chamada “lei anti-vândalos” e o “grande debate nacional”?

O grande grande debate nacional elaborado pelo governo foi uma estratégia para ganhar tempo diante do maior movimento social, da maior ofensiva desde maio de 68. Eles esperaram que o movimento perdesse força com o tempo, uma vez que nenhuma das poucas propostas feitas pelo governo conseguiram acalmar os Coletes Amarelos. O grande debate foi, assim, um meio para Macron retomar a palavra nas mídias, ocupar o espaço, fazer campanha para as eleições europeias que estavam chegando. As regras do grande debate, seus temas, foram ditados pelo governo: tentativa de pacificar o movimento social que, entretanto, não funcionou.

A “lei anti-vândalos” é uma lei que restringe o direito de se manifestar com interdições administrativas. Isso significa que não passa por uma decisão judicial, mas é a polícia que tem o poder de proibir as pessoas de se manifestar. A lei proíbe também o uso de máscara e condenações extremamente pesadas são pronunciadas se as pessoas são presas durante as manifestações.

Com essa nova lei, que foi muito criticada, o Estado tentou responder de maneira securitária à radicalização do movimento, que passou de um movimento pacifista nos primeiros dias a um movimento que assume plenamente o confronto com o Estado e convoca abertamente à insurreição.

Porém, a tentativa do governo com a lei anti-vândalos teve o efeito inverso: ela contribuiu para aumentar a tensão. Os Coletes Amarelos a entenderam como uma lei liberticida. A manifestação nacional do dia 16 de março em Paris foi a demonstração de uma resposta: foi uma das maiores e mais ofensivas desde o início do movimento. E ela foi realizada no dia do fim do grande debate, como uma demonstração de força.

Todas as imagens foram retiradas do site: https://lundi.am/

 

 

 

 

 

Gilets Jaunes: autre façon de concevoir la lutte

par quelques gilets jaunes (entre autres choses)

 

1 – Comment le mouvement des Gilets Jaunes a commencé?

Le mouvement des gilets jaunes à commencé en France en novembre suite à l’annonce du gouvernenemnt d’augmenter le prix du carburant. Il s’est répandu très vite grace aux réseaux sociaux où plusieurs appels à manifester dans tout le pays apparaissent pour la date du 17 novembre.

La première nouveauté du mouvement est qu’il n’appelle pas à manifester dans les centres villes mais sur les ronds-points proches des villes pour bloquer des points stratégiques de l’économie: dépôts pétroliers, centres commerciaux, grandes entreprises, la plupart du temps situés dans des zones péripheriques. On remarque, dès le début, une vraie intelligence stratégique collective, et ce, malgré le fait qu’il ne soit pas structuré et qu’il soit complètement spontané, avec en son sein beaucoup de gens qui vivent les premières manifestations de leur vie.

Les revendications s’élargissent très rapidement à des revendications plus sociales: davantage de justice sociale, rétablissement de l’ISF ( impostos para os mais ricos qui foi retirado pelo Macron), hausse du pouvoir d’achat et aussi plus de démocratie, de reprensentativité de la population. L’augmentation du prix du carburant n’est finalement qu’une excuse pour contester une politique globale du gouvernement. D’ailleurs cette taxe va être très vite retirée par le gouvernement pour essayer de calmer le jeu et les manifestations ne se sont pas arrêtées pour autant. Elle ont pris d’autres formes, sont entrées davantage dans le centre ville. Il y a eu des appels nationaux à aller à Paris où d’énormes manifestations ont lieu début décembre, touchant des quartiers qui n’ont pas l’habitude d’être touchés, comme sur les Champs-Elysées et les quartiers bourgeois qui sont autour. Ce sont les magasins et restaurants de luxe qui vont être la cible des manifestants gilets jaunes.

Le mouvement a aussi une autre particuliarité: le fait que les manifestations aient lieu le samedi, ce qui historiquement en France n’était jamais arrivé, permet à la fois de mobiliser davantage de monde, mais aussi d’avoir un impact important sur l’économie des centres villes, là où les manifestations se déroulent. Pour exemple, tous les samedis de décembre, période du gros chiffre d’affaire lié à Noël, les magasins du centre-ville et parfois des centres commerciaux à l’extérieur, ont été bloqués.

2) Quoi de nouveau dans le mouvement des Gilets Jaunes par rapport aux derniers grands mouvements de résistance (ex.: 1er mai 2018)?

Nous l’avons déjà évoqué, mais la première particularité du mouvement est de s’être organisé en-dehors de tout cadre institutionnel. Les premiers appels sont nés et ont largement été diffusés sur les réseaux sociaux en se passant complètement des syndicats ou des partis politiques. La défiance face aux organisations politiques traditionnelles est d’ailleurs un des éléments essentiel de la mobilisation des gilets jaunes. Les syndicats essayent bien aujourd’hui de se greffer au mouvement mais leur capacité de mobilisation reste marginale par rapport à aux nouvelles figures publiques du mouvement qui sont apparues sur facebook ou sur les ronds-points. Un autre élément qui illustre la défiance des gilets jaunes vis-à-vis des partis politiques est l’échec des quelques tentatives qui ont été faites de créer des listes électorales « gilets jaunes » pour les élections européennes qui auront lieu au mois de mai. A chaque fois, les leaders de ces listes ont renoncé face à la pression de la rue et des ronds-points qui refusent catégoriquement de rentrer dans le jeu éléctoral et rejettent les institutions gouvernementales, qu’elles soient européennes ou nationales.

Cela permet d’introduire une nouvelle facette particulière des gilets jaunes. Comme on l’a dit, la première étincelle qui a déclenché le mouvement a été la taxe sur le carburant et d’autres revendications s’y sont greffées par la suite. Pour autant, il est clair que cette mobilisation ne s’est pas faite contre une mesure particulière mais qu’elle s’est cristallisée contre une politique gouvernementale et contre un homme, Emmanuel Macron qui symbolise à lui seul toute l’injustice sociale et le mépris des classes les plus modestes. Si la partie citoyenniste du mouvement essaye tant bien que mal de mettre les revendications au centre du mouvement, on a quand même l’impression qu’elle a du mal à s’imposer et que la volonté générale reste de mettre à mal l’économie et les représentations du pouvoir partout où c’est possible, tant que le gouvernement tient encore debout.

Un dernier point à mettre en avant est dans la composition même du mouvement. De nombreux gilets jaunes viennent de zones rurales ou de la périphérie des villes qui ne sont traditionnellement pas des zones de contestation. Et comme le mouvement n’est pas centré sur une revendication particulère mais sur une politique globale, il traverse les clivages sociaux ou professionnels usuels et regroupe des personnes de cultures politiques et de pratiques différentes, beaucoup vivant là leur première mobilisation. A ce titre, il est intéressant de regarder l’évolution des discours des gilets jaunes. A ses premières heures, le mouvement souhaitait afficher clairement son apolitisme. Au fur et à mesure, les discours ont évolué et le mouvement ne se qualifie plus du tout d’apolitique mais plus volontiers d’apartisan. A travers cette transformation sémantique, on peut voir une manière d’assumer que les actions de blocage, les construction de cabanes sur les rond-points constituent bien une manière de faire de la politique. Mais d’une façon nouvelle, centrée sur les points de rencontre entre les gens et en-dehors de toute tentative de structuration au sein de partis politiques.

Nous avons déjà un peu répondu, mais il y a des éléments à ajouter. D’abord, c’est un mouvement qui est né et a perduré en dehors de tout appel syndical ou politique. Ce qui n’avait jamais existé jusque là en France.

Par ailleurs, les premières actions n’ont pas été des manifestations, mais spontanément des blocages massifs des rond-points et donc de l’économie, des flux de circulation.

Les figures publiques qui ont emérgé pendans le mouvement sont apparues soit sur Facebook soit directement sur les ronds-points mais jamais dans le cadre de négociation avec l’Etat.

Enfin, Les revendications dès le départ étaient très larges, mais catalysaient clairement un rejet des institutions et une sorte d’injustice sociale qui s’incarne directement dans la figure de Macron.

3) Au Brésil, une grande partie de la gauche voit le mouvement des Gilets Jaunes de façon très négative, en tant qu’un mouvement de droite. Comment la gauche traditionnelle voit-elle les Gilets Jaunes en France? Pourquoi ce mouvement peut être perçu comme de droite, au Brésil ou en France?

Le mouvement des gilets jaunes a surtout été perçu comme un mouvement de droite dans ses premières semaines, essentiellement à cause de la nature de ses revendications. En visant directement les hausses de taxes (en premier lieu celle sur le carburant mais pas uniquement) comme responsables de la baisse du pouvoir d’achat des français, les revendications rejoignent celles qui sont traditionnellement portées par le patronat, les agriculteurs ou les routiers qui sont généralement associés à l’éléctorat de droite. Malgré lui, le mouvement a également souffert d’un rapprochement un peu rapide avec deux mouvements de contestation réactionnaires ancrés à droite. Le premier, le mouvement Poujade, porté par les commerçants et les artisans dans les années 50, fustigeait la fiscalité et les contrôles que devaient subir les petits commerçants avec des attaques violentes envers le gouvernement et aux relents antisémites.

Le deuxième, plus récent, est le mouvement des bonnets rouges qui se rapproche des gilets jaunes aussi bien par son iconographie (le vêtement coloré) que par ses revendications initiales (retrait d’une taxe « environnementale »), portées par la frange agro-industrielle des agriculteurs bretons et qui ont débouché sur un allégement des contraintes environnementales pesant sur l’industrie du porc.

Pourtant, mis à part la critique initiale des taxes, le rapprochement de ces deux mouvements avec celui des gilets jaunes ne tient pas. Là où le poujadisme et les bonnets rouges défendent uniquement es intérêts économiques d’une corporation (marchande et agricole), les gilets jaunes, rappelons-le, expriment la colère d’une partie de la population très diversifiée, de vivre toujours un peu plus dans la précarité et déplacent les revendications sur un plan politique en réclamant plus de place dans le débat politique.

On peut voir dans cette tentative d’attaque du mouvement une forme de mépris de classe portée par une partie de la gauche qui n’a pas réussi à se situer dans un mouvement social qui bouscule les cadres d’analyses classiques.

Il est intéressant de voir qu’aujourd’hui, avec la persistence du mouvement et l’émergence de revendications citoyennes (comme le référendum populaire), ces critiques se sont largement tues dans les discours des politiques même si une partie de la population, confortée par certains traitements médiatiques du mouvement, continue à penser que les gilets jaunes sont des racistes, homophobes qui ne comprennent pas pourquoi ils manifestent.

4) Pourquoi vous (et d’autres forces politiques plutôt de gauche) avez trouvé nécessaire de participer aux mobilisations des Gilets Jaunes, de confronter les forces de droite et même de se mêler ou de se confondre avec eux? Qu’avez vous appris avec ce choix?

Si les forces révolutionnaires étaient plutôt mitigées sur la pertinence de ce mouvement dans un premier temps, c’est à la fois l’efficacité de la stratégie de blocage et la participation d’une large partie de la population qui ont éveillé notre curiosité. Si notre hypothèse politique est de révéler la guerre civile en cours cela passe obligatoirement par une confrontation avec un large spectre de positions, dans ce contexte insurrectionnel, et par conséquent aussi des positions réactionnaires. Si des idées racistes se sont exprimées de manière décomplexée dans les premiers jours, l’affirmation quasi unanime des Gilets Jaunes que ce qui nous unissait était ailleurs a rapidement fait taire ou fait partir ceux qui pouvaient porter ce type de discours.

Nous ne nous sommes jamais confondus avec des positions enemies mais avons essayé de faire vivre des idées ou des pratiques qui sont les notres. Ainsi on a par exemple pu à la fois initier la construcion de cabanes sur certains ronds-points, démocratiser l’utilisation de Signal pour communiquer, amener du matériel adéquat pour les blocages, proposer des assemblées pour s’organiser, documenter le mouvement à travers différents articles et vidéos, apporter des techniques de défense collective en manifestation et face à la justice. Le seul critère qui rend ces propositions valides ou pas est le bon sens dans la situation, épargné par la lecture partisane habituelle.

Chaque discussion dans ce mouvement est un champ de bataille dont on ne peut jamais prédire l’issue, pour le meilleur, comme pour le pire.

5) Et les banlieues? Pendant longtemps nous avons entendu parler de la répression incessante sur les soulèvements de la banlieue par différents gouvernements. Quelle est la situation de ces quartiers populaires sous le gouvernement Macron? Y-a-t-il des convergences entre les luttes de la banlieue et celle des Gilets Jaunes?

Par rapport aux banlieues, le gouvernement Macron a mis en place des mesures pour l’éducation : un effort salué par les enseignants est la réduction des effectifs dans les premières classes de l’école primaire pour consolider les apprentissages de bases (lecture, écriture, calcul, principalement). Mais une mesure comme celle-ci ne va pas sans son vase communicant. Les moyens alloués pour ces effectifs réduits ont été pris dans les campagnes notamment, zones particulièrement sinistrées en matière d’éducation, ce qui explique aussi le mouvement Gilets Jaunes actuel. Et ces mesures sont bien en-deçà de ce que la situation actuelle des banlieues nécessiterait. En effet, les politiques d’accueil des migrants étant dans le flou général – volontaire, pour ne pas avoir à les accueillir justement – c’est dans les banlieues qu’ils sont logés et « pris en charge », par les associations, par les institutions, etc. Qui sont au bord de l’explosion. Les problématiques sociales sont bien plus présentes encore qu’elles ne l’étaient jusque là. Les quartiers se ghettoïsent.

Pour la convergence, elle est loin d’être là. Au début, le mouvement Gilets Jaunes étaient loin des préoccupations des banlieues : la question des taxes sur l’essence, les véhicules, le racisme encore fort au début, la question du pouvoir d’achat… Des ponts ont été tentés, rencontrer les associations, tracter dans les quartiers, etc. Mais le militantisme classique ne fonctionne plus depuis longtemps dans les banlieues françaises. Trop souvent porté par des blancs, rompus aux techniques politiciennes, et loin de ce qui se vit sur place.

Pour autant, le soutien au mouvement est plutôt général en banlieue. Mais un soutien de loin, sauf de la part de quelques associations militantes, notamment celles qui luttent contre les violences policières.

Par exemple, le comité Vérité et Justice pour Adama1 appelait dès le 1er décembre à rejoindre les manifestations des Gilets Jaunes avec ces mots : « Le Comité Adama appelle à manifester samedi 1er décembre aux cotés des gilets jaunes. Les quartiers populaires sont confrontés aux mêmes problématiques sociales que les territoires ruraux ou périurbains – dits “périphériques” – touchés par la politique ultra libérale de Macron. »

1Le 19 juillet 2016, un jeune homme de 24 ans, Adama Traoré, décède dans une gendarmerie de banlieue parisienne. Un comité est ensuite créé pour obtenir la vérité sur sa mort, qui est reconnue officiellement comme naturelle.

 

6) Disons que le mouvement des Gilets Jaunes, par n’importe qu’elle raison, cesse d’exister. Qu’aurait-il produit ou changé dans votre vie et dans la vie d’autres personnes (comme les retraités, par exemple) qu’y participent? Et que pensez-vous qu’il aura changé dans l’environnement politique plus large en France?

La première chose c’est une façon de concevoir la lutte : le mouvement Gilets Jaunes ne part pas des milieux politiques/militants/de gauche traditionnels, il ne suit pas ses règles et se fout un peu des codes. C’est se confronter à un monde qui n’a pas les mêmes références et pour qui s’organiser politiquement est d’un coup complètement et uniquement concret. C’est aussi abandonner la pureté de la lutte révolutionnaire. Et composer avec des désaccords bien plus grands. Alors qu’on avait l’habitude, localement, d’être la seule force politique à faire bouger les lignes dans les mouvements sociaux, on a finalement été nous-mêmes bouleversés.

Pour ce qui est de la vie d’autres personnes, c’est difficile de prendre la parole pour eux : ce qui est sûr c’est qu’on a vu des pratiques de solidarité bousculer les habitudes de chacun, que des lignes de fracture politique ont été dépassées et que pour beaucoup, le sentiment qui s’est dégagé c’est qu’on a pu reprendre la parole. Par exemple :

  • il n’est plus possible de laisser un gilet jaune se faire arrêter en manifestation

  • des réseaux se sont créés qui cherchent une solution aux problèmes rencontrés par les uns et les autres

  • des cagnottes multiples ont été organisées, pour faire des affiches, des tracts, mais aussi pour soutenir des Gilets Jaunes qui avaient des amendes, etc.

  • un soutien moral et psychologique, une attention à chacun s’est mise en place naturellement, les difficultés de chaque situation sont prises en compte.

Les rencontres sur les rond-points, dans les assemblées, sont de vraies rencontres, avec un côté clan qui a pu créer de nouveaux affrontements, mais en tous cas la sensation de ne plus être seul.

Ce qui change dans l’environnement politique plus large c’est que les institutions politiques ont été vraiment ébranlées, et la foi qui leur était accordée a quasiment disparu. Largement, l’horizontalité des prises de décision est mise en avant.

7) Que pensez-vous des réactions gouvernementales récentes au mouvement des Gilets Jaunes, tel comme la dite “loi anticasseurs” et le “grand débat national”?

Le grand débat national voulu par le gouvernement a été une stratégie pour gagner du temps face au mouvement social le plus grand, le plus offensif depuis mai 68. Ils ont espéré que le mouvement s’essoufle avec le temps puisqu’aucune des maigres propositions faites par le gouvernement ne parvenait à calmer les gilets jaunes. Le grand débat était aussi un moyen pour Macron de reprendre la parole dans les médias, occuper l’espace, faire campagne pour les élections européennes qui arrivent. Les règles du grand débat, ses thèmes, ont été dictés par le gouvernement : une tentative de pacifier le mouvement social, qui n’a cependant absolument pas fonctionné.

La « loi anticasseurs » est une loi qui restreint le droit de manifester avec des interdictions administratives de manifester. Ce que ça signifie, c’est que cela ne passe pas par une décision de justice mais que c’est la police qui a le pouvoir d’interdire les personnes de manifester, la loi interdit aussi de se masquer le visage et des condamnations plus lourdes sont pronocées si les personnes sont arrêtées lors des manifestations.

Avec cette nouvelle loi très critiquée, l’Etat essaie de répondre de façon sécuritaire à la radicalisation du mouvement qui est passé d’un mouvement pacifiste dans les premier jours à un mouvement qui assume pleinement la confrontation avec l’Etat et appelle ouvertement à l’insurrection.

Pour autant la tentative du gourvenement avec la loi anticasseur a eu l’effet inverse : elle a contribué à faire monter la tension. Les Gilets Jaunes y ont aussitôt vu une loi liberticide. La manifestation nationale le 16 mars à Paris en est la démonstration : c’est une des plus grandes et plus offensives depuis le début du mouvement. Et elle avait lieu le jour de la fin du grand débat, comme une démonstration de force.

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